A Arte de Udo Knoff: A Azulejaria que Embelezou as Casas de Salvador
Esse painel assinado por Udo Knoff, foi criado em dezembro de 1961.
A composição retrata uma paisagem bucólica, aparentemente, litorânea, onde são identificados alguns veleiros, atracados na areia, um extenso coqueiral e, a frente deles, algumas choupanas, com coberturas de palha. A composição foi pintada a pincel, à mão livre e, suas cores predominantes são o verde, amarelo, tons de terra e o azul.
A obra foi, artisticamente, bem executada, e a técnica de pintura e cozimento demostra a expertise do autor, visto que, após 64 anos exposta aos reveses climáticos e à salinidade típica de Salvador, ela encontra-se, surpreendentemente, íntegra.
No texto que faz a introdução desse trabalho fomos convidados a conhecer como a azulejaria autoral participou do movimento moderno, na arquitetura, chamando a atenção do mundo e se tornando um signo de brasilidade, quase obrigatório, nos projetos que queriam se alinhar à vanguarda.
A importância da obra que agora mostramos, entretanto, é justamente porque ela não se inspirou na modernidade. Ela representa um imenso conjunto de painéis azulejares, encontrados em todas as regiões do Brasil, que não seguiram as tendências visuais propostas pelo Movimento Moderno e, sim aquelas que ditaram a moda de outros tempos, onde o belo expressava-se no estilo naturalista.
As composições, retratando a natureza, foram criadas para atender o desejo dos proprietários dos imóveis que, inspirados pelas telas paisagísticas dos museus, viam o painel azulejar como suporte perfeito para essa arte, que realçava, em cores suaves e pinceladas, bem marcadas, rios, casebres, embarcações, aspectos do clima — como a chuva, a neve e o sol ardente — e elementos da flora e fauna, do Brasil e do exterior.
Muitos artistas, em seus ateliers, se dedicaram às pinturas naturalistas, criando trabalhos de grande beleza, e, pela cidade, eles estão em entradas sociais dos edifícios, nas varandas das casas e, muitas vezes, em fachadas, como esta que registramos.
E não é raro encontrá-las em edificações que apresentam, também, elementos visuais da arquitetura moderna, como os pilares em V, os cobogós, as treliças e as pastilhas cerâmicas.
São painéis especiais, pois contam muito sobre como é ser moderno de um jeito bem brasileiro.
Pesquisa e produção de textos: Eliana Ursine da Cunha Mello.
Fotografias: Eliana Ursine da Cunha Mello e Marcelo Maia.
Publicado em 06/05/2025