Revestimento azulejar da antiga agência central do Banco do Brasil
O revestimento azulejar integrado à fachada posterior da antiga agência central do Banco do Brasil, realizado em 1968, distribui-se em três faixas horizontais — correspondentes aos três andares do edifício — intercaladas por fiadas de janelas justapostas, de vidro espelhado. Ele é composto por azulejos em relevo, técnica pouco comum na arquitetura moderna brasileira, talvez por seu processo artesanal mais oneroso e complexo.
A técnica de produção tem início com a construção de moldes negativos em baixo-relevo, que reproduzem a composição artística. Esses moldes são pressionados contra a argila fresca, preenchidos, e, após a secagem e desmolde, originam uma placa cerâmica tridimensional com a imagem relevada da composição original.
No caso do revestimento do Banco do Brasil, cada azulejo mede 14 x 14 cm e apresenta quatro formas estilizadas de figuras marinhas, pintadas com esmalte branco e aplicadas no centro da base cerâmica. Esta base, levemente estriada, é esmaltada em amarelo com variações tonais que vão do claro ao laranja. Nos cantos, volutas em relevo de cor azul escuro funcionam como elementos de ligação entre as peças.
É de conhecimento público que a composição ornamental foi criada por Carybé e que a execução técnica em cerâmica foi realizada por Udo Knoff. No entanto, há uma segunda versão quanto à autoria dessa materialização: o artista português Eduardo Gomes, que vive na Quinta Portuguesa, afirmou à pesquisadora Eliana Mello ser o responsável pelo trabalho, apresentando inclusive exemplares guardados como prova.
Apesar disso, além de o Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica reconhecer oficialmente a autoria de Udo Knoff, a pesquisadora localizou o artista Edvaldo Gato, que trabalhou no ateliê de Udo. Em entrevista, ele relatou sua participação na produção dos azulejos, detalhando orientações recebidas de Udo, inclusive sobre a aplicação da técnica underglaze (pintura sobre cerâmica cozida, antes da esmaltação).
A partir da análise dos dados, Eliana Mello concluiu que Udo Knoff foi, de fato, o ceramista responsável pela execução técnica da obra de Carybé, o que reforça a longa trajetória de amizade e parceria profissional entre os dois artistas. É importante destacar que todos os painéis azulejares assinados por Carybé na Bahia também trazem a assinatura de Udo Knoff.
Ainda assim, a pesquisadora considera plausível que Eduardo Gomes tenha participado do processo, seja elaborando parte de uma encomenda inicial, seja atendendo a um possível pedido complementar, caso tenha havido necessidade de reforço no fornecimento dos azulejos.
Pesquisa e produção de textos: Eliana Ursine da Cunha Mello.
Fotografias: Eliana Ursine da Cunha Mello e Marcelo Maia.
Publicado em 06/05/2025