Casa Di Vina - Casa de Vinícius de Moraes
Durante todo o ano, de verão a verão, centenas de turistas, brasileiros e estrangeiros, chegam a Salvador, com destino certo: a Casa Divina, Boutique Hotel, na praia de Itapuã.
O que torna esse espaço muito especial e aguça a curiosidade dos visitantes é o fato de ter sido, na década de 1970, a casa do poeta, Vinícius de Moraes e da atriz, Gessy Gesse, protagonistas do amor que deu vida à uma das mais lindas canções do Brasil: Tarde em Itapuã.
Os dois se conheceram no Rio, e foram apresentados por Maria Bethânia. Reza a lenda que foi paixão instantânea e, minutos depois o Poetinha afirmava: — Vou me casar com você e morar na Bahia. Dito e feito.
Em 18 maio de 1973, o Diário de Pernambuco noticiava: — Vinícios de Morais vai residir em caráter definitivo em Salvador, onde está concluindo uma casa sensacional.
O projeto da casa foi encomendado ao arquiteto Sílvio Robatto que, por sua vez, convidou Jamison Pedra para colaborar no trabalho.
A história conta que eram poucas as exigências do casal: uma banheira de onde se pudesse ver o mar, um e telhado alto, que apontasse, também, para o mar, uma sala de som e muito espaço para receber os amigos.
Quando a construção chegou à fase dos acabamentos estéticos, Udo Knoff foi chamado para criar as artes cerâmicas, que seriam integradas à piscina, aos banheiros do casal e ao banheiro de visitas.
Para o banheiro de visitas ele criou um painel de imensas flores amarelas, que foi instalado dentro do box.
Para os dois banheiros da suíte master, ele criou e executou azulejos e esculturas cerâmicas que, ainda hoje, permanecem no local, em perfeito estado de conservação.
O banheiro de Vinícius, onde fica a banheira, tem a parede de azulejos brancos ornada com pinturas de peixes, estrelas-do-mar e cavalos-marinhos azulejos, em composições variadas.
Já o banheiro de Gessy Gesse, recebeu esculturas. Para a parede, ao lado do box, Udo criou, em cerâmica, um conjunto de moldes e contramoldes de nádegas, em tamanho natural, que foram fixados, na alvenaria, em posições variadas.
A piscina, em formato curvilíneo e revestida por azulejos brancos, ganhou dois conjuntos artísticos: um destinado à borda do tanque e outro, ao banco submerso.
Para a borda, Udo criou um padrão, de fundo azul escuro, sobre o qual destaca-se o elemento decorativo, que é construído pela sobreposição de 3 formas orgânicas, iguais mas, de tamanhos e cores diferentes.
Para o banco ele fez azulejos, que exibem representações estilizadas de seres aquáticos e, também, campos de cor, em espiral, desenhados à mão livre e pintados a pincel.
Após quase 50 anos de contínua exposição ao sol, chuva, vento, salinidade e, principalmente, ao cloro utilizado na higienização da água, os desenhos e as cores dos azulejos, foram perdendo definição, brilho e valor cromático, a ponto de comprometer a percepção artística.
A casa já estava adequada para a hotelaria, e os gestores, zelosos daquele patrimônio, custearam o restauro dos revestimentos. Infelizmente foi uma intervenção mal sucedida e eles buscaram outra solução.
Foram, então, orientados a fazer a readequação da piscina, preservando o significado cultural da obra de Udo Knoff, para a edificação, tanto na criação dos novos revestimentos quando na conservação das peças degradadas.
Hoje a piscina encontra-se revestida por novos azulejos, pintados em atelier, cujos desenhos são criações autênticas de Udo Knoff, escolhidas entre registros de sua produção, ao longo da vida.
Referências:
Diário de Pernambuco, Ed. 00131 – Recife,18.05.1973 – 2º Caderno, p. 4.
FALCÃO, Anna Larissa Gomes; SOUZA, Louise Ramos Lobato. Tarde em Itapuã: a Bahia de Vinicius de Moraes. 60 fls. (TCC, Comunicação Social) UFBA: Salvador, 2012.
Pesquisa e produção de textos: Eliana Ursine da Cunha Mello.
Fotografias: Eliana Ursine da Cunha Mello e Marcelo Maia.
Publicado em 06/05/2025