Painel “Chegada de Tomé de Souza” (1958): A Fundação de Salvador em Azulejos

O painel “Chegada de Tomé de Souza”, criado por Jenner Augusto com execução técnica do ceramista Udo Knoff, é um exemplo da produção de azulejaria contemporânea na Bahia. Produzido em 1958, o mural representa, em três cenas sequenciais, a chegada do primeiro governador-geral do Brasil à Baía de Todos os Santos e o início da construção da cidade do Salvador.

Maria Helena - Diretora do Museu

A narrativa visual se organiza da esquerda para a direita: Tomé de Souza é visto ainda na proa da embarcação; no centro, dialoga com o mestre de obras Luís Dias, que apresenta os planos de construção da cidade, enquanto operários ao fundo trabalham na implantação dos primeiros marcos urbanos. À direita, o Padre Manoel da Nóbrega envolve crianças indígenas com seu manto, num gesto simbólico de acolhimento e catequese.

De acordo com o crítico e historiador da arte Frederico Morais, que em 1990 publicou o segundo volume da obra Azulejaria Contemporânea no Brasil, à época da realização do painel funcionava no local o Museu de Arte Popular, organizado por Jenner Augusto, Mário Cravo e Agnaldo Santos. Ainda segundo Morais, muitos dos personagens históricos representados no mural foram inspirados em figuras reais da cena artística e intelectual baiana dos anos 1950.

Conforme sua descrição, Tomé de Souza foi retratado com o rosto do escultor Mário Cravo; o mestre de obras Luís Dias tem as feições de Carybé, segurando um pergaminho; ao fundo, observa a cena o escultor Mirabeau Sampaio. O Padre Manoel da Nóbrega é representado pelo pintor Raimundo de Oliveira, enquanto uma das crianças indígenas traz o rosto do poeta e crítico de arte Wilson Rocha, então diretor dos Cadernos da Bahia. O próprio filho de Jenner Augusto aparece no painel, caracterizado como uma criança nobre.

A pintura foi realizada à mão livre, em tons de azul sobre fundo branco, utilizando a técnica do overglaze — pintura sobre azulejo já esmaltado e queimado. De acordo com registros do próprio Udo Knoff, preservados nos arquivos do Museu de Arte da Bahia, o painel foi produzido em julho de 1958, já em seu ateliê localizado na Avenida Dom João VI, nº 378.

Fonte:

MORAIS, Frederico. Azulejaria Contemporânea no Brasil. São Paulo: Editoração Publicações e Comunicações, 1990. Volume 2, 144 p.

Depoimento de Sara Cardoso.

A arquiteta Arilda Cardoso, responsável pelo projeto do hotel, resgatou essas peças do ateliê de Udo e, junto com sua filha Sara, organizou e montou cada painel, dando nova vida aos azulejos.

Pesquisa e produção de textos: Eliana Ursine da Cunha Mello.
Fotografias: Eliana Ursine da Cunha Mello e Marcelo Maia.
Publicado em 06/05/2025

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Obras selecionadas

Chegada de Tomé de Souza
Chegada de Tomé de Souza

Chegada de Tomé de Souza

Produzido em 1958, o mural representa, em três cenas sequenciais, a chegada do primeiro governador-geral do Brasil à Baía de Todos os Santos e o início da construção da cidade do Salvador.

 Tomé de Souza é visto à esquerda, ainda na proa da embarcação
Tomé de Souza é visto à esquerda, ainda na proa da embarcação

Tomé de Souza é visto à esquerda, ainda na proa da embarcação

Os personagens da história, retratados por Jenner tem as feições de seus amigos mais próximos.

O artista Mário Cravo é o rosto de Tomé de Souza na cena em que aparece chegando ao Brasil.

 Tomé de Souza dialogando com o mestre Luís Dias
Tomé de Souza dialogando com o mestre Luís Dias

Tomé de Souza dialogando com o mestre Luís Dias

No centro, temos Tomé de Souza dialogando com o mestre Luís Dias, que lhe mostra os planos de construção, tendo, às suas costas, operários que implantam os primeiros marcos da cidade.

Novamente o artista Mário Cravo empresta seu rosto à Tomé de Souza, o mestre de obras, Luís Dias, é representado por Carybé, que segura um pergaminho.

O governador geral, posicionado ao fundo, observando a conversa dos dois, é o escultor Mirabeau Sampaio

Padre Manoel da Nóbrega, envolvendo com seu manto protetor alguns índios-meninos
Padre Manoel da Nóbrega, envolvendo com seu manto protetor alguns índios-meninos

Padre Manoel da Nóbrega, envolvendo com seu manto protetor alguns índios-meninos

O padre Manoel da Nóbrega, que tem três crianças indígenas a sua frente, é representado pelo pintor Raimundo de Oliveira, que afaga a cabeça de uma das crianças, que tem o rosto do poeta e crítico de arte Wilson Rocha, diretor de Cadernos da Bahia

Tomé de Souza/Mário Cravo
Tomé de Souza/Mário Cravo

Tomé de Souza/Mário Cravo

Criança/ Filho de Jenner Augusto
Criança/ Filho de Jenner Augusto

Criança/ Filho de Jenner Augusto

Wilson Rocha
Wilson Rocha

Wilson Rocha

Uma das crianças, que tem o rosto do poeta e crítico de arte Wilson Rocha, diretor de Cadernos da Bahia

Raimundo de Oliveira
Raimundo de Oliveira

Raimundo de Oliveira

O padre Manoel da Nóbrega, que tem três crianças indígenas a sua frente, é representado pelo pintor Raimundo de Oliveira

Tomé de Souza/Mário Cravo
Tomé de Souza/Mário Cravo

Tomé de Souza/Mário Cravo

Carybé e Mirabeau Sampaio
Carybé e Mirabeau Sampaio

Carybé e Mirabeau Sampaio

O mestre de obras, Luís Dias, representado por Carybé, que segura um pergaminho. O governador geral, posicionado ao fundo, observando a conversa dos dois, é o escultor Mirabeau Sampaio.

Assinatura da Cerâmica Udo
Assinatura da Cerâmica Udo

Assinatura da Cerâmica Udo

Assinatura Jenner Augusto
Assinatura Jenner Augusto

Assinatura Jenner Augusto

Funcionava no local o Museu de Arte Popular, organizado por Jenner Augusto, Mário Cravo e Agnaldo Santos.

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