No charmoso bairro do Rio Vermelho, em Salvador, o Hotel Catharina Paraguaçu guarda, entre suas paredes, um tesouro artístico repleto de história e emoção: os painéis de azulejos criados a partir do acervo do renomado ceramista Udo Knoff. Mas o que torna essa obra tão especial?

A ideia surgiu da arquiteta Arilda Cardoso, responsável pelo projeto do hotel. Nos anos 90, ao visitar o atelier de Udo Knoff, ela se deparou com uma montanha de azulejos, pedaços de testes de cor, cerâmicas queimadas e sobras de produções do artista. O que para muitos poderia ser apenas um amontoado de peças esquecidas, para Arilda era um material precioso, pronto para ganhar nova vida.

Após uma negociação inusitada com Udo, que envolveu troca de materiais e até um lote de azulejos brancos para que ele pudesse continuar produzindo, as peças foram levadas para casa. Lá mãe e filha passaram noites inteiras, garimpando, limpando e organizando os fragmentos, montando manualmente os painéis em uma grande mesa usada para jogos de pingue-pongue. Cada peça encaixada contava uma história, e a criação se tornou um processo tão envolvente que virava madrugadas de trabalho e dedicação.

Quando o hotel foi finalmente inaugurado, em junho de 1994, os corredores estavam tomados pelas cores e formas dos azulejos reaproveitados. Udo Knoff, já debilitado pela doença, foi levado ao local para ver o resultado. Ao caminhar pelos corredores, reconhecendo fragmentos de suas criações espalhados pelas paredes, ele se emocionou profundamente. Entre lágrimas, declarou:

"Arilda, isso aqui é o filme da minha vida. Toda a minha produção, tudo o que fiz ao longo dos anos está aqui."

Até hoje, os painéis e detalhes espalhados pelo hotel são um testemunho vivo do talento de Udo Knoff e da sensibilidade de Arilda Cardoso, uma história que encanta todos que ali se hospedam.